Livro "Entre lírios e brumas", de Ana Cleusa Bardini (Camino Editorial)
- Patrícia Claudine Hoffmann
- 28 de jan.
- 2 min de leitura
“Entre lírios e brumas” é o novo livro de nossa amada poeta Ana Cleusa Bardini. Está tão lindo! Desponta em solo forte e iluminado, da Camino Editorial, entre os cuidados das incríveis editoras Ana Cecília Romeu e Isabel Rodrigues e conta ainda com o frescor vindo dos campos das belíssimas ilustrações de Luíse Rodrigues da Costa.❤️📚
Mas o que dizer dessa poesia de primeiríssima grandeza que nos intui de infinitos secretos e tão videntes?
Dizer, com a natural voz dos sentidos, que a poesia de Ana Cleusa Bardini tem formação de alma. Poesia que é sabedora implacável em habitar recônditos raros que reinam vigorosos no cerne da delicadeza: silêncio que fala... Dizer somente, aqui dos sentidos, que seus versos nascem cristalinos, da mais profunda das fontes sutis e nos dirigem aos oceanos profundos dos signos, das imagens sensórias que atravessam mundos inusitados, repletos do mínimo que é máximo, dos repuxos alquímicos, próprios da poesia... os quais nos transmutam e se movimentam quase sem percebermos, porque quando nos damos conta, já estamos envoltos na pura astúcia desta poeta que sabe bem dos manejos da eternidade, pelas mãos musicais de suas palavras que regem a beleza desde o broto, pela linha tênue que germina entre o mistério e o pólen primordial do sagrado. É assim que a autora
nos consagra sua Arte nesse mundo. Imerge-nos em outros. Fundamentais.
Gratidão, poeta, por nos conceder a beleza florescente desses seus mundos-lírios. Que eles nos olhem. Beijo. Mais e mais sucesso! ✨️📚❤️🌺
Seguem alguns poemas colhidos:
●
Ondas nas pedras
quebravam;
O ruído da imensidão
despertava oceanos
Tão longe e tão dentro,
era mil novecentos
e noventa e quatro
Peixes brincalhões
miúdos, coloridos,
saltitavam luminosos
nas transparências das águas
na Prainha da Cigana
Águas de a-mar
Águas de aventurar
pés e peixes misturados
num rodopio de brisa,
conchas, amor de marear
aquele feitiço
de maresia no ar...
_____________________(p. 23)
*
UM JARDIM DE MANJERICÃO
As borboletas
com as abelhas
festejam
a nova florada
e eu assisto a tudo
pela janela de grade
pro gato não fugir
O perfume entra e
eu entro em transe
e também como
com radicha
polenta e
queijo parmesão
_______________________(p.47)
*
A cidade passa por mim preguiçosa
Enquanto esvazio a taça borbulhante
De soluços ocultos...
Só bem tarde desperto e douro de paixão
Meus sentidos submersos e contemplo as
Árvores esculpidas em sombras caídas
Qual madonas em antiaquários imortais.
Este sombreado me persegue
Quando de mim se aparta a última
Gota clara do dia e
Transforma num gemido minha alma
Moribunda, escorregadia de vida...
Porém, não tarda e na manhã seguinte
Haverei de emergir
De silêncio borrado de PAZ
E virei à luz
E renascerei com cara de borboleta
Dançando no Jardim...
______________________(p. 62)
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